MEUS PENSAMENTOS E INTERPRETAÇÕES.

A figura do MESTRE não tem tradução. Não há pincel,por mais privilegiado que seja , capaz de a reproduzir.
A arte consiste em copiar a natureza. A natureza de Jesus transcende a tudo que se conhece na Terra.
Imaginai a doçura da criança ao lado da profundeza do sábio; a humildade do simples aliada à fulguração do gênio; a candura da donzela a par da austeridade de um juiz integérrimo; as blandícias das mães extremosas confinando com a firmeza de uma vontade varonil; a personificação da justiça culminando na encarnação do amor, e tereis a imagem do filho de Deus.
   Quem ousará traçar as linhas e os contornos,que necessariamente tal caráter imprimiu à matéria com que se fez visível e tangível no cenário humano?
   Os artistas têm procurado concebê-lo sob os aspectos mais interessantes de sua vida terrena.De todos os quadros que conhecemos , o Cristo no Horto e o que melhor nos impressiona, conquanto ainda não satisfaça plenamente a visão íntima que dele fazemos.O Cristo de Velasquez e outros, o de Limpias, cuja fama, como obra de arte, é  muito justificada, não nos apraz, não nos impressiona bem. Será , talvez, falta de cultura artística de nossa parte.É bem possível. Contudo,é um quadro que não nos agrada. Representa o  Cristo em agonia, tendo estampado no rosto os estigmas indeléveis da dor em seu paroxismo.É artístico, não há dúvidas; mas,além de ser de um realismo brutal e feroz, não é , não pode ser a expressão da verdade quanto ao Mestre no transe da morte.Não dá idéia de Jesus com fidelidade, conforme o sinto, consoante o afirmo para mim mesmo, no meu interior. O quadro de Limpias imita perfeitamente um moribundo que se contorce, arquejante e dolorido, lábios descerrados, olhos revoltos nas órbitas.
   Painel tétrico! Jamais  minha alma sentiu Jesus assim. Nunca meu entendimento concebeu o MESTRE em  tal atitude.É o Cristo morrendo como ele não podia ter morrido. No entanto, poderão objetar:Jesus foi crucificado, foi um mártir que sucumbiu no patíbulo infamante.Sabemos de tudo isso; mas, que nos importa, uma vez que não esse Jesus que nos fala a alma? Todas às vezes que apelamos para ele, não é o moribundo que vem à nossa mente. A imagem que vem a nossa mente é a do Cristo redivivo, amorável, plácido, doce,sereno, irradiando luz, graça e poder.Vemo-lo através da energia que nos fortalece nos momentos de fraquezas; vemo-lo através da luz que nos ilumina espancando as trevas de nossa ignorância; vemo-lo através da  graça que nos perdoa, que nos nos consola em nossa tribulações; vemo-lo através da mansuetude que acalma os arrebatamentos de nosso espírito; vemo-lo através da generosidade que dulcifica nossos sentimentos; vemo-lo finalmente no amor que nos eleva, purifica e salva.Jamais o sentimos morto, vencido, impotente;mas, antes, sempre cheio de vida, forte, varonil.
  Que será que vêem os que o contemplam cravado na cruz? Em tal condição, só vejo, e disso me horrorizo,a iniquidade humana, tentando,em vão, emudecer o Verbo Divino na sua obra de revelador da Verdade ao mundo.
   Diante do Cristo vivo, nossa alma se curva reverente para acolher as impressões que a nosso respeito Ele transmite.Diante do Cristo morto, os homens levantam a cabeça para lamentá-lo.Aqui, os homens se fazem juízes; Ali, é o Senhor que reflete, o juízo da soberana justiça. Por isso muitos preferem vê-lo morto na tela ao senti-lo vivo no coração.